Noções de Farmacologia na Enfermagem

Noções de Farmacologia na Enfermagem

Atualizado em 08/02/2023 às 07:08

O termo farmacologia é de origem grega – pharmakon – e apresenta vários significados: substâncias de uso terapêutico, venenos, substâncias de uso místico ou sobrenatural, entre outros. 

Já o termo droga tem sua origem no holandês e significa folha seca (ervas), pois, até o início do século XX, todos os medicamentos eram feitos utilizando-se plantas e demais produtos de origem vegetal.

Os primeiros medicamentos produzidos por indústrias farmacêuticas, utilizando substâncias sintéticas, estão registrados a partir de 1920. Uma das primeiras drogas sintéticas registradas é a anfetamina, produzida a partir de 1927, e indicada como vasoconstritor.

O estudo da farmacologia visa a proporcionar ao profissional conhecimentos sobre como os agentes químicos e biológicos afetam os sistemas biológicos dos seres vivos. A farmacologia é uma ciência e seu estudo pode ser utilizado com finalidade:

  • terapêutica: quando é destinada para a cura e/ou controle de doenças e para o alívio de sintomas;
  • preventiva: quando se destina à prevenção de doenças, como é o caso das vacinas e da colocação de flúor na água (fluoração); 
  • diagnóstica: quando se utiliza contrastes em exames.

O profissional de enfermagem é figura fundamental no processo de medicação de um paciente. Ele é responsável pelo preparo e administração saúde, empresas (enfermagem do trabalho), atendimento domiciliar (home care) etc. Todos os cuidados de enfermagem prestados a um paciente são importantes; o ato de medicar pode ser considerado um dos que mais oferecem riscos. Segundo artigo publicado na Revista de Saúde Pública, em 2009, com base em pesquisa abrangendo 4.026 prescrições médicas no ano de 2001, observou-se que no total de 7.148 medicamentos de alto risco prescritos foram registrados 3.177 erros, sendo mais frequente a omissão de informação (86,5%).

Neste post, serão esclarecidos conceitos que permeiam o processo medicamentoso e estão diretamente ligados aos cuidados de enfermagem.

Ao administrar qualquer medicamento para um paciente, o profissional da área da saúde, incluindo-se o de enfermagem, tem como objetivo primordial alcançar os efeitos terapêuticos desejados provocando o mínimo de efeitos colaterais. Para isso, é fundamental o conhecimento dos princípios básicos que envolvem a farmacologia, a saber, a farmacocinética e a farmacodinâmica, as quais podem ser assim definidas:

  • Farmacocinética: é o ramo da farmacologia que estuda o movimento do medicamento dentro do organismo nas fases de absorção, distribuição, biotransformação e eliminação. Descreve a ação do organismo sobre o medicamento.
  • Farmacodinâmica: é o ramo da farmacologia que estuda o local e o mecanismo de ação, e os efeitos do medicamento no organismo. Descreve a ação do medicamento sobre o  organismo.

Com base nas definições anteriores, detalharemos alguns conceitos, para melhor compreensão das ações e reações provocadas pelo uso dos mais diversos medicamentos.

Absorção

 Os medicamentos são administrados por diversas vias, fato que influencia sua absorção. A absorção é a passagem do fármaco do local onde foi administrado para a corrente sanguínea. Essa etapa não acontece quando o medicamento é diretamente administrado na circulação, como, por exemplo, na via endovenosa. Os locais mais comuns onde ocorre a absorção são os músculos, a mucosa oral, a pele e o intestino.

Nos casos de medicamentos administrados por via oral, a absorção ocorre no trato gastrointestinal e sofre influência de vários fatores, entre eles: área disponível para absorção; fluxo sanguíneo regional; propriedades físico-químicas dos medicamentos; concentração local do medicamento; acidez gástrica; presença ou não de nutrientes no momento da administração; alteração da função gastrointestinal (aumento da velocidade de es- vaziamento gástrico, diarreia, constipação etc.); preparação do fármaco e sua forma de apresentação (comprimidos, soluções etc.); concentração do medicamento.

 Nos medicamentos administrados por via sublingual, a absorção ocorre na própria cavidade oral, através do sistema venoso bucal.

As vias de administração de medicamentos classificadas como parenterais (principalmente a endovenosa, a intramuscular e a subcutânea) apresentam certas peculiaridades quanto à absorção de medicamentos. No caso da via endovenosa, o medicamento é administrado diretamente na circulação sanguínea. Na via intramuscular, a absorção está relacionada ao fluxo sanguíneo do local de aplicação e ao tipo de solução. Soluções que utilizam água como base são absorvidas mais rapidamente que as soluções oleosas.

As características químicas dos fármacos também podem influenciar a absorção por via intramuscular. Medicamentos administrados por via subcutânea apresentam como característica a absorção lenta e contínua.

A absorção de medicamentos pela via transdérmica dependerá das condições de integridade da pele. Tecidos lesionados promovem uma absorção mais lenta que tecidos íntegros. A absorção também está rela- cionada à extensão do local onde será aplicado o medicamento e o fluxo sanguíneo na região.

Biodisponibilidade

 Biodisponibilidade é definida como a fração do medicamento administrado que atinge a circulação sistêmica. Nos casos de administração de medicamentos por via endovenosa, a biodisponibilidade é 100%.

O percentual de biodisponibilidade de cada medicamento dependerá de vários fatores, entre eles, o grau e a velocidade de absorção desse medicamento e a fração que é metabolizada pelo fígado (antes de atingir a circulação). Alguns medicamentos apresentam um grande percentual de absorção pelo intestino, mas a fração metabolizada também é grande, proporcionando um pequeno percentual que atinge a circulação sistêmica. Esse problema é solucionado nos casos em que o medicamento pode ser administrado por via endovenosa. Por exemplo, o medicamento propranolol, quando administrado por via endovenosa, tem dose padrão igual a 5 mg, porém, quando administrado por via oral, sua dose varia de 40 a 80 mg, para atingir a mesma concentração de medicamento na circulação sistêmica.

 Problemas no fígado podem modificar a metabolização de um medicamento, alterando sua biodisponibilidade.

Distribuição

 A distribuição é definida como a passagem do medicamento da circulação sanguínea para os diversos órgãos e tecidos.

Esse processo sofre influência de vários aspectos, entre eles:

  • características físico-químicas do medicamento, como lipos-solubilidade e grau de ionização;
  • tamanho da molécula (complexo fármaco-proteína);
  • pH local; e
  • vascularização do tecido.

A distribuição pode ser dividida em duas fases. Na fase inicial, estão envolvidos órgãos que apresentam alta perfusão e recebem a maior parte do medicamento nos primeiros minutos. Esses órgãos são o coração, o fígado, o trato gastrointestinal, os rins e o cérebro. Na segunda fase, os órgãos e tecidos atingidos são os músculos, algumas vísceras, os tecidos com perfusão média e o tecido adiposo.

Outro fator importante relacionado à distribuição é a ligação proteica. Somente medicamentos livres conseguem passar pelas membranas celulares, atingindo seu alvo e promovendo o efeito farmacológico desejado.

Eliminação

 A eliminação é a retirada do medicamento do organismo. Esse processo tem início assim que o medicamento atingir a circulação sistêmica. A eliminação ocorre por modificação metabólica e por excreção.

O fígado é o órgão mais importante no processo de eliminação por modificação metabólica, podendo ocorrer, também, nos rins, nos pulmões, no trato gastrointestinal e na pele.

O processo de excreção ocorre principalmente nos rins. A excreção também pode ocorrer nos pulmões, no trato gastrointestinal (fezes), no suor, na saliva e nas lágrimas. Alguns medicamentos são eliminados pela bile, sendo reabsorvidos e eliminados pelos rins.

Conceitos fundamentais

 Para melhor compreensão dos conteúdos que serão abordados nos próximos capítulos, é necessário que o profissional de enfermagem domine as nomenclaturas mais utilizadas em farmacologia. Além dos termos já esclarecidos, há outros que também são fundamentais, dentre os quais:

  • Bioequivalência: é o estudo em que são comparadas a biodisponibilidade de um medicamento de referência e a de um medicamento genérico. Quando dois medicamentos têm a mesma biodisponibilidade, ou seja, são bioequivalentes, um pode substituir o outro.
  • Concentração: é a quantidade de determinada substância (ativa ou inativa) em certo volume ou massa de produto. Exemplo: solução glicosada 5% significa que em cada 100 ml de solução há 5 g de glicose.
  • Dispensação: é o ato de fornecer o medicamento para o comprador (nos casos de drogarias) ou ao profissional de enfer- magem que irá preparar o medicamento e administrá-lo ao paciente.
  • Dose de ataque: é a dosagem única de medicamento com capacidade de atingir rapidamente a concentração terapêutica.
  • Dose de manutenção: é a dosagem de medicamento que deverá ser repetida, periódica ou continuamente, para garantir a estabilidade da sua concentração dentro de limites.
  • Dose letal: dose com a qual a morte é atingida. É um efeito indesejável, normalmente observado em pesquisas laborato
  • Droga: é qualquer substância que apresenta como característica a capacidade de alterar a função dos organismos vivos, acarretando mudanças fisiológicas e/ou comportamentais.
  • Droga-tóxico: droga com ação maléfica sobre o organismo.

REFERÊNCIAS

1. Administração de medicamentos na Enfermagem. Rio de Janeiro: EPUB. 2ª ed, 2002
2. FURP – Memento Terapêutico. Secretaria de Estado da Saúde. 6ª ed., nov/95.
3. STAUT, NAÍMA DA SILVA – Manual de drogas e soluções. São Paulo: EPU, 1986.
4. ZANINI, A.C., OGA S. – Farmacologia aplicada. 5º ed. São Paulo: Atheneu, 1994.
5.FAKIH, F.T. – Manual de Diluição e administração de medicamentos injetáveis. 1ªed.
Rio de Janeiro, 2000
6. FONSECA, S.M. et al – Manual de Quimiterapia antineoplasica. 1ªed, Rio de Janeiro,
2000
7. DUNCAN, H.A. et al – Dicionário Andrei para enfermeiros e outros profissionais da
saúde, 2ªed, São Paulo, 1995

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