Por que os homens se suicidam mais que mulheres?

O que explica o fato de que mais homens cometem suicídio do que mulheres? Seria o conceito de masculinidade vigente – que dificulta que homens expressem seus sentimentos – responsável pela diferença nos índices?

Jonny Benjamin estava prestes a se suicidar, mas depois de conversar com Mike (direita) desistiu da ideia

No depoimento a seguir, Jonny Benjamin, que ganhou destaque na imprensa com uma campanha para encontrar o homem que o salvou do suicídio, analisa o tema.

Ele se preparava para saltar de uma ponte em Londres, em 2008, quando foi interpelado por um homem que puxou conversa, lhe ofereceu um café e acabou fazendo com que seu desespero e falta de perspectivas se transformassem em um ímpeto na luta contra o problema.

Lembro-me com clareza do momento em que decidi cometer suicídio.

Foi numa noite de domingo, dia 13 de janeiro de 2008. Eu já havia considerado essa possibilidade na minha adolescência, mas só um tempo depois, duas semanas antes do meu aniversário de 21 anos, que eu comecei a planejar meu suicídio.

Do instante em que tomei a decisão até o momento, no dia seguinte, em que realmente tentei me matar, estive em contato com várias pessoas – família, amigos e até médicos.

Eu tinha acabado de receber um diagnóstico de esquizofrenia e depressão e estava no hospital recebendo tratamento. Ninguém tinha qualquer noção das minhas intenções.

Eu sentia vergonha e medo do que eles poderiam pensar se eu contasse sobre os pensamentos suicidas e os sentimentos que me consumiam naquela hora. Além disso, eu não conseguia encontrar palavras para expressar meu estado mental.

O que impediu que eu me matasse foi a incrível generosidade de um desconhecido – alguém que, inclusive, procurei recentemente por meio de uma campanha em uma rede social para que eu pudesse expressar minha gratidão.

Momento certo

A campanha, batizada de Find Mike (Encontre o Mike), se tornou viral. Duas semanas depois, voltamos a nos encontrar.

A busca por Mike, uma iniciativa da ONG de saúde mental Rethink Mental Illness, teve também o objetivo de conscientizar o público sobre o suicídio.

Segundo dados do Escritório Nacional de Estatísticas do Reino Unido, 16 pessoas cometem suicídio a cada dia no país. Mas o tema continua sendo tabu na sociedade britânica.

Felizmente, houve uma redução expressiva no índice de suicídios entre mulheres, que caiu 50% nos últimos 30 anos.

Nesse mesmo período, no entanto, o número de suicídios entre homens aumentou: é o mais alto desde 1999. Suicídio é a principal causa de morte de homens com idades entre 20 e 49 anos no Reino Unido. Em 2012, 4.590 homens se mataram no país.

Esses números mostram claramente que existe um problema que não podemos mais ignorar. O que mais terá de acontecer para que encaremos isso de frente?

Quando eu era criança, todo sábado ia com o meu pai ao estádio ver o Crystal Palace FC jogar. Eu nunca tinha visto homens adultos expressarem suas emoções da forma como faziam nas arquibancadas. Que eu me lembre, foi numa dessas tardes que vi um homem chorar em público pela primeira vez. E provavelmente foi também a primeira vez que vi um homem chorar sem tentar disfarçar as lágrimas.

A sociedade parece gostar de dizer aos homens como devem agir. Na semana passada, uma revista britânica dedicou uma edição especial ao tema "Como ser um homem – segundo as mulheres".

Fomos aconselhados a "sair, ganhar dinheiro, voltar para casa e cuidar das crianças. Os homens devem ser homens." O próprio dicionário traz, como sinônimos de másculo, ou masculino, palavras como força, vigor e intrepidez.

Mas quando eu estava doente, com dificuldade de lidar com a vida, foi justamente o medo de não poder atender a essas expectativas que me levou a pensar no suicídio. O que impediu que isso acontecesse foi a compreensão, por parte de um outro homem, daquilo que eu estava sentindo. Talvez seja preciso redefinir o significado de masculinidade, parar de dizer "seja homem" ao outro e começar a mostrar a ele que homens adultos choram, sim.

Temos de começar pelo sistema de educação. Aprendi tudo na escola, exceto como cuidar do meu bem-estar. A lembrança mais forte que tenho da escola é ter assistido a uma palestra em que o palestrante convidado, um escritor, disse: "Nem todo mundo precisa ser popular ou engraçado". Para um adolescente de 15 anos à procura de sua identidade, parecia que um peso tinha sido tirado das minhas costas.

Se pudermos dizer aos jovens de hoje que é normal termos dificuldades na vida, talvez se sintam mais aptos a pedir ajuda se as coisas estiverem difíceis demais.

Educação Física é matéria obrigatória no currículo escolar. Saúde mental não é menos importante.

Acesso a serviços de saúde mental é essencial. Mas também é preciso que se criem formas de controlar o número cada vez maior de sites que oferecem suporte a suicidas.

Segundo um relatório do British Medical Journal, quando uma pessoa procura auxílio para cometer suicídio na internet, há mais probabilidade de que ela encontre sites que a incentivem a seguir em frente do que sites que a detenham e ofereçam apoio psicológico.

Acredito firmemente que sites que glorificam o suicídio devem ser proibidos como parte de uma estratégia governamental de prevenção. Também deveríamos divulgar amplamente os serviços de apoio disponíveis para pessoas em dificuldades.

Eu ia me matar porque não acreditava que existisse outra forma de escapar do desespero que estava sentindo. Mas falar sobre o problema me levou para outra direção. Agora sei que é possível superar impulsos suicidas. Esta é a mensagem que precisamos urgentemente disseminar na sociedade.

A ONG CVV, Centro de Valorização da Vida, oferece apoio emocional para pessoas que estão em dificuldades no Brasil.
O atendimento é feito por voluntários treinados. O serviço é feito com respeito e de forma anônima e sigilosa, sem aconselhamentos ou julgamentos.

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