A depressão em profissionais de enfermagem pode gerar suicídio

A depressão em profissionais de enfermagem pode gerar suicídio

Atualizado em 26/04/2023 às 03:51

A depressão e o suicídio, fenômenos complexos e interligados, geram sofrimento intenso para indivíduos afetados, familiares, amigos e comunidade, sendo problemas relevantes de saúde pública. Um estudo publicado na Revista da Escola de Enfermagem da USP, conclui que o risco de suicídio entre os profissionais de enfermagem está associado a sintomas depressivos e os correlacionados com a Síndrome de Burnout.

A depressão e o suicídio segundo OMS

A depressão e o suicídio são fenômenos complexos que trazem intenso sofrimento na vida das pessoas acometidas, de seus familiares, amigos e comunidade. Estes dois fenômenos coexistem e se influenciam mutuamente, e ambos são considerados significativos problemas de saúde pública.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a depressão é responsável por 4,3% da carga global das doenças e está entre as maiores causas de incapacidade no mundo, particularmente para as mulheres. Também refere que o suicídio é um fenômeno universal, sendo a principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos.

Somente em 2012 ocorreram 804.000 suicídios em todo o mundo, o que representa uma taxa de 11,4 por 100.000 habitantes (15,0 em homens e 8,0 nas mulheres).  

De acordo ainda com a OMS para o ano 2020 ocorrerão, aproximadamente, um milhão e meio de suicídios em todo o mundo, ou seja, uma morte a cada vinte segundos.

Tanto a depressão quanto o suicídio resultam da interação de fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sociológicos, culturais e ambientais, sendo importante indicador da qualidade de vida das populações. A depressão caracteriza-se pelo prolongamento de sintomas depressivos e variação de humor. A pessoa acometida por esse transtorno tem a capacidade de ver o mundo e a realidade alterada.

A depressão e o suicídio no Brasil

O Brasil apresenta as maiores taxas de depressão, 18,4% da sua população já teve pelo menos um episódio depressivo durante a vida, ficando atrás apenas da França (21,0%) e Estados Unidos (19,2%). O Brasil também foi classificado como o quarto país da América Latina a apresentar o maior crescimento no número de suicídio entre 2000 e 2012, com taxa geral de 4,3 por 100.000 habitantes, porém alguns dos seus estados têm taxas expressivamente superiores.

Houve um aumento significativo das taxas de suicídio entre mulheres, com 17,8% em 12 anos. No mundo, anualmente, o número de suicídios é superior às mortes em conflitos mundiais, com aumento de 60% em suas taxas nos últimos 50 anos.

Hoje os sintomas depressivos e de suicídio, que corresponde ao processo e causas de morte provocados pela própria vítima, é elevada entre os profissionais da saúde, que é muitas vezes influenciada pelo estresse do ambiente e processo de trabalho, que interfere significativamente na vida laboral destes profissionais, com impacto na qualidade de vida.

Lentidão nas atividades, desinteresse, redução da energia, apatia, dificuldade de concentração, pensamento negativo e recorrente, com perda da capacidade de planejamento e alteração do juízo de verdade são evidências de sofrimento humano que sinalizam para depressão e possível risco de suicídio.

Os profissionais de enfermagem, estão no grupo dos mais propensos aos problemas de saúde mental

Os profissionais de enfermagem estão no grupo dos mais propensos aos problemas de saúde mental, dentre os quais a depressão e o risco de suicídio, porque lidam com o sofrimento humano, a dor, a alegria, tristeza e necessitam ofertar ajuda àqueles que necessitam de seus cuidados. Destacam-se, ainda, outros fatores comumente encontrados, como as condições difíceis de trabalho e a falta de reconhecimento profissional.

A depressão é uma das três doenças mais referidas pelos trabalhadores de enfermagem, os altos índices de depressão e riscos para o suicídio contrastam com o trabalho desempenhado pelos profissionais de enfermagem, de quem, geralmente, espera-se o cuidado, mas que também por outro lado, pode necessitar ser cuidado.

A enfermagem é uma profissão suscetível aos transtornos psíquicos, pelo fato de lidar cotidianamente com a vida, a dor e morte das pessoas sob seus cuidados e com as cobranças dos seus familiares. A depressão é uma das doenças que mais atinge seus profissionais e produz danos à capacidade laboral e vida pessoal. Como o estado depressivo é preditor do aumento do risco para o suicídio, os profissionais da enfermagem apresentam mais risco para o suicídio.

Ambientes de trabalho insalubres

Ambientes de trabalho insalubres, com condições precárias, somados à presença de conflitos internos e as exigências da instituição e familiares dos pacientes maximizam nestes profissionais os riscos para depressão e suicídio.

Os fatores apontados como influenciadores para os sintomas depressivos, são principalmente aqueles associados a desajustes na vida familiar dos profissionais de enfermagem. Também já foram confirmadas que perdas familiares, ausência de suporte familiar e conjugal elevam as chances para o risco do suicídio.

Cabe ressaltar que o modo de trabalho dos profissionais de enfermagem produz prejuízo ao contato familiar, e a carência deste contato pode levar à depressão.

Cansaço e excesso de trabalho comprometem o diálogo destes profissionais no seio da família, como também conflitos entre ter que corresponder às exigências do trabalho de enfermagem e conciliá-las com as responsabilidades familiares contribui para o desgaste relacional, além do que os plantões noturnos e em finais de semana muitas vezes ocupam o lugar dos períodos usados para aproveitar a convivência com a família.

Conflitos interpessoais no ambiente de trabalho são comuns e apareceram como fatores que levam à depressão. Em função do caráter relacional do trabalho de enfermagem, podem produzir irritabilidade, gerar conflitos e dificuldades interpessoais com os demais membros da equipe, como também com os gestores, usuários e ampliar-se para seus familiares.

Insegurança para desenvolver as suas atividades laborais

Estudos demonstrou que a depressão nos profissionais de enfermagem também foi associada à insegurança para desenvolver as suas atividades laborais, as quais se caracterizam por padrões elevados de cobrança, principalmente quando envolve a alta complexidade e possibilidade de morte dos pacientes.

Por vezes, o sofrimento psíquico contribuiu para o enfrentamento das demandas profissionais através do desejo de fuga das responsabilidades, da passividade e do pessimismo, comuns na depressão.

O estudo também mostrou que a depressão atinge em maior escala grupos mais jovens dos profissionais da enfermagem do que os com idade mais avançada. A vulnerabilidade dessa escala jovem estaria ligada à pouca experiência em lidar com situações cotidianas do trabalho.

A sobrecarga é considerada um fator que contribuiu muito para o aumento do estresse emocional e físico, que pode desencadear vários adoecimentos.  A sobrecarga produziu desgaste físico e psíquico nos trabalhadores da enfermagem em UTI e encontra-se, principalmente, entre os fatores desencadeantes de pesadelos, depressão, ansiedade severa e pânico, gerando a Síndrome de Burnout.

Fatores que contribuem para a Depressão na Enfermagem

  • Ambiente de trabalho;
  • Conflitos familiares;
  • Conflitos interpessoais no ambiente de trabalho;
  • Estado civil;
  • Estresse;
  • Falta de autonomia profissional;
  • Insegurança em desenvolver atividades;
  • Plantão noturno;
  • Renda familiar;
  • Sobrecarga de trabalho;
  • Síndrome de Burnout.

CUIDANDO DOS NOSSOS PROFISSIONAIS

A saúde e qualidade de vida dos enfermeiros são cruciais, pois enfrentam complexidades e relações humanas variadas. Lidam diariamente com exigências e fatores de risco para depressão, suicídio e adoecimento, comprometendo o cuidado pleno. Enfermeiros devem ser vistos não só como trabalhadores da saúde, mas como indivíduos suscetíveis a danos em sua saúde.

Portanto, chamar a atenção para a gravidade dos riscos que corre, tanto no seu trabalho quanto na vida pessoal, em desenvolver transtornos mentais e que, muitas vezes é negligenciado, inclusive pelos próprios profissionais, é extremamente necessário.  

Medidas para melhorar as relações interpessoais no ambiente de trabalho dos profissionais da enfermagem devem ser adaptadas como diálogo, escuta, vínculo e acolhimento, visto que favorecem a compreensão do sofrimento, valorização das experiências e atenção às necessidades das diferentes pessoas envolvidas no processo de trabalho.

A equipe de enfermagem apresenta fragilidade no conhecimento sobre o comportamento depressivo que consequentemente gera o suicido o que repercute nas intervenções realizadas.  Os profissionais da área de Saúde precisam estar atentos para que a presença de transtornos mentais seja detectada e enfrentada antes que cause prejuízos ao seu desempenho profissional.

Devem-se identificar os problemas psíquicos entre esses profissionais, com o fim de formular programas educacionais e estratégias clínicas para a orientação e o diagnóstico precoce, com o objetivo de prevenir a cronificação do transtorno depressivo, diminuir o risco do suicídio e o aumento de outros transtornos psiquiátricos.

REFERÊNCIAS

1. Barbosa KKS, Vieira KFL, Alves ERP, Virgínio NA. Sintomas depressivos e ideação suicida em enfermeiros e médicos da assistência
hospitalar. Rev Enferm UFSM [Internet]. 2012 [citado 2014 out. 14]; 2(3):515-522.
2. World Health Organization. Preventing suicide: a global imperative. Geneva: WHO: 2014
3. World Health Organization. Comprehensive mental health action plan 2013-2020. Geneva: WHO; 2013.
4. Heck RM, Kantorski LP, Borges AM, Lopes CV, Santos MC, Pinho LB. Ação dos profissionais de um centro de atenção psicossocial diante
de usuários com tentativa e risco de suicídio. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2012 [citado 2014 out. 24]; 21(1):26-33.
5. Rios KA, Barbosa DA, Belasco AGS. Evaluation of quality of life and depression in nursing technicians and nursing assistants. Rev Latino
Am Enfermagem [Internet]. 2010 [cited 2014 Oct 12];18(3):413-20.
6. Vieira TG, Beck CLC, Dissen CM, Camponogara S, Gobatto M, Coelho APF. Adoecimento e uso de medicamentos psicoativos entre
trabalhadores de enfermagem de unidades de terapia intensiva. Rev Enferm UFSM [Internet]. 2013 [citado 2014 out. 14];3(2):205-14.
7. Bromet E, Andrade LH, Hwang I, Sampson NA, Alonso J, Girolamo G, et al. Cross-national epidemiology of DSM-IV major depressive
episode. BMC Med [Internet]. 2011 [cited 2014 Oct 25];9:90.
8. Organização Mundial de Saúde. Saúde pública ação para prevenção de suicídio. Genebra: OMS; 2012.
9. Schmidt DRC, Dantas RAS, Marziale MHP. Anxiety and depression among nursing professionals who work in surgical units. Rev Esc
Enferm USP [Internet]. 2011 [cited 2014 Oct 12];45(2):487-93.
10. Vargas D, Dias APV. Depression prevalence in Intensive Care Unit nursing workers a study at hospitals in a northwestern city of São Paulo
State. Rev Latino Am Enfermagem [Internet]. 2011[cited 2014 Oct 12]; 19(5):1114-21.
v19n5/08.pdf
11. Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CM. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na
enfermagem. Texto Contexto Enferm. 2008;17(4):758-64.
12. Bezerra FN, Silva TM, Ramos VP. Occupational stress of nurses in emergency care: an integrative review of the literature. Acta Paul Enferm
[Internet]. 2012 [cited 2014 Oct 20];25(n. spe 2):151-6.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *