A Enfermagem frente aos Cuidados Paliativos

Os Cuidados Paliativos envolvem não só as queixas verbais mas toda a esfera do paciente.

Em relação à amenização de dor e outros sintomas físicos, a Enfermagem têm de aprender a interpretar não só as queixas verbais, mas aquelas que estão veladas no movimento, na expressão corporal, nos sinais fisiológicos, porém sempre atenta ao ponteiro da obstinação terapêutica quando se trata de procedimentos que podem se tornar repetitivos no dia a dia do paciente.

Os Cuidados Paliativos envolvem todas as esferas do paciente, porém em relação aos sintomas físicos, tem se uma necessidade maior de uma equipe multiprofissional, visando que um consenso no método terapêutico empregado, não permita que a assistência paliativa se torne de alguma forma distanásia, trazendo sofrimento longo ao paciente, ou se aproxime da eutanásia, acelerando o processo de morte.

Pode se observar que no caso de medicações fortes, como opioides utilizados para aliviar a dor, existe uma recusa dos pacientes devido ao grau de sedação que a medicação traz ao ser administrada. Nestes casos então, deve se respeitar o desejo do paciente e respeitar sua decisão de passar pela morte com lucidez, porém sem o alívio da dor presente.

Quanto à visão do processo de morte e morrer, pode ser afirmado que os pacientes que entram em protocolo de Cuidados Paliativos no processo de Morte e Morrer são pacientes em sua grande maioria, que permaneceram por um longo período com a equipe, que serem tratados por um longo período, onde os profissionais depositaram seus esforços e criaram vínculos mesmo que simples, e serem os mesmos pacientes que verão ir a óbito.

A enfermagem em Cuidados Paliativos no processo de Morte e Morrer vê diariamente o sofrimento destes pacientes e de seus familiares na espera da morte, até que ela chegue. Tais eventos tornam se cotidiano da profissão, porém na maioria das vezes, os profissionais não sabem como lidar estas situações.

Isto é um evento comum nos profissionais, onde já não conseguem enxergar a morte como natural. Então é necessário que a Enfermagem desenvolva estratégias para que isto não lhe afete tão nocivamente em longo prazo.

Em alguns momentos, a enfermagem pode se sentir impotente, visto que não pode fazer mais nada por um paciente, ou despreparada em outros, em vista que apenas aprendeu a curar. A morte eminente pode fazer com que estes sentimentos primários se transformem, em raiva, frustração, visto que muitos materializam o evento que era natural, como de sua responsabilidade, como se pudessem ter feito algo mais, ou evitado alguma atitude. A morte passa a ser incômoda de alguma forma, os fazendo inclusive negociar, ou manifestar comportamentos defensivos.

Em relação ao respeito e não adiantamento da morte percebe se que existe uma falta de conhecimento do que realmente são os Cuidados Paliativos no processo de Morte e Morrer, sendo comumente confundidos com cuidados críticos. A grande diferença está na essência da paliativação, onde já não existe como objetivo a cura de alguma condição de saúde. Ter este conhecimento permitirá que não ocorra obstinação terapêutica.

Quanto à promoção de suporte psicossocial e espiritual 

Pode se afirmar que esta é uma das dimensões do cuidar da Enfermagem que mesmo quando não se trata de Cuidados Paliativos, ainda é pouco aplicada à prática da profissão. Esta dificuldade pode estar relacionada com sua forma atual, que é abstrata para os profissionais, sendo difícil identificar, diagnosticar, prescrever cuidados, executá los e ainda avaliar seus resultados.

O Enfermeiro que atua em Cuidados Paliativos, em relação a esta e demais atribuições que lhe pertencem, age como um solucionador, então, tem por papel avaliar toda e qualquer necessidade não suprida, e propor soluções para elas. As necessidades psicossociais e espirituais não deixem de ser uma delas, então devem ser propostos e executados suportes para estas.

A espiritualidade permite que o paciente e todos aqueles envolvidos em sua rotina, familiares, profissionais, encontrem sua unidade, tendo uma noção muito mais ampla sobre a vida e o seu papel nela, repensando os valores que cercam situações como a morte eminente, e encontrando um sentido natural e pleno para que esse tipo de situação com toda e qualquer pessoa.

Nas necessidades espirituais, sabe se que em muito as instituições hoje ainda pendem, porém existem normativas e protocolos que podem ser opostos mesmo de forma involuntária ao suporte espiritual. Vale lembrar que espiritualidade está além de exercício de culto, mas pode estar ligada a ele também. A enfermagem deverá então, saber quando pode abrir exceções.

Quanto à promoção de autonomia e independência. 

A autonomia é o direito que o paciente tem de escolher as condutas a serem tomadas nos Cuidados Paliativos, ou nos casos onde este já não tem condições de responder por si, a família. É importante que a enfermagem entenda bem a filosofia dos Cuidados Paliativos, para que sua posição de profissional de saúde não faça ter uma atitude defensiva ou paternalista, impedindo o paciente e seus familiares de exercerem seus direitos sobre a terapêutica a ser empregada.

Uma das medidas que promove a independência, bem como autonomia do paciente é o acompanhamento paliativo desde o diagnóstico de uma doença degenerativa, ou o suporte a saúde de forma mais precoce possível, nestas situações. Isto permite que o paciente enfrente menos danos em longo prazo. Porém, atualmente, as equipes de enfermagem têm enxergado os Cuidados Paliativos apenas como aqueles que são executados nos últimos dias de vida de um paciente, o que acarreta em um modelo de assistência preventivo “inexistente”.

O acompanhamento multidisciplinar permite também um foco maior em todas as necessidades do paciente, favorecendo uma abordagem mais humanizada e que permita maior independência ao paciente, uma vez que o foco se torna cada vez menos a patologia ou o agravo de saúde. Isto gera um atendimento diferenciado, com profissionais que identificaram e auxiliaram na perda de independência progressive.

Em relação ao fornecimento de assistência aos familiares e pessoas próximas ao paciente, a equipe de enfermagem deve promover a participação familiar em toda a terapêutica, incluindo estas pessoas no âmbito hospitalar do paciente, e também deve fazer com que o paciente se enxergue como corresponsável, junto de seus entes, mas também como protagonistas, tendo papel ativo em todas as decisões e atitudes da equipe de saúde.

A enfermagem deverá estar atenta também às necessidades psicológicas da família, visto que a morte é um evento que traz sentimentos intensos como a raiva, frustração, luto, que podem desencadear em danos maiores em longo prazo.

Deverá saber identificar sinais de comportamento alterado e oferecer apoio e suporte da equipe multidisciplinar, ajudando a família a passar por esta fase da vida. Tanto no contato com a família, quanto no contato com o paciente, existe uma necessidade de conhecimento de técnicas e estratégias de comunicação interpessoal, sejam verbais ou não verbais, a fim de trazer mais clarividência a tudo àquilo que a equipe de saúde deseja passar, seja para transmitir sentimentos afetuosos, comunicar procedimentos, explicar a terapêutica empregada.

Afinal, conforme se insere mais no ambiente hospitalar, a família manifesta curiosidade e dúvidas a respeito da terapêutica empregada com o paciente. Vale lembrar que a comunicação verdadeira, sem que haja distorção de conteúdo em troca de alguma vantagem pessoal para o profissional, serve como ponte para o estabelecimento de confiança e empatia entre a equipe e a enfermagem, o que facilita uma assistência de qualidade. Porém, mesmo se não houvesse vantagem em estabelecer comunicação franca, ela é um direito dos familiares e do paciente.

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